A poesia, segundo Maria Alberta Menéres, em O poeta faz-se aos 10 anos, é: "(...) a beleza e o sentido das coisas e de nós próprios. É uma maneira de olhar o mundo. É uma forma de atenção a tudo. Ela pode estar em toda a parte: nós às vezes, é que não estamos onde ela está, só porque passamos ou vivemos distraídos."
Ou, como afirma Alice Vieira, no prefácio a O Meu Primeiro Álbum de Poesia, "(...) a poesia, apesar de se fazer com palavras, está muito além delas. É aquilo que essas palavras conseguem levar e depositar no nosso coração. E para que isso aconteça, não é preciso que sejam palavras complicadas, frases elaboradas, rimas perfeitas."
Pois a verdade é que "o poeta tem olhos de água para refletirem todas as cores do mundo, e as formas e as proporções exatas, mesmo das coisas que os sábios desconhecem", como disse Manuel da Fonseca.
A poesia faz parte do meu trabalho. Uso-a nas sessões de contos, ou nos ateliers de escrita e é várias vezes tema das Comunidades de Leitores que dinamizo.
Considero essencial esse olhar inaugural que a poesia nos oferece. Penso que é fundamental contagiar os mais pequenos através da leitura e dessa "pedagogia do deslumbramento" de que fala Luísa Dacosta.
Através, por exemplo, de poemas como estes:
Bichinho de Conta
Bichinho de conta
conta...
E o bichinho de conta
contou
que um dia
se enrolou
e parecia
um berlinde pequenino
de tal maneira
que um menino
de brincadeira
com ele jogou...
Bichinho de conta
conta...
E o bichinho de conta
contou.
Sidónio Muralha in Bichos, Bichinhos e Bicharocos
A Cabeça no Ar
As coisas melhores são feitas no ar,
andar nas nuvens, devanear,
voar, sonhar, falar no ar,
fazer castelos no ar
e ir lá para dentro morar,
ou então estar em qualquer sítio só a estar,
a respiração a respirar,
o coração a pulsar,
o sangue a sangrar,
a imaginação a imaginar,
os olhos a olhar
(embora sem ver)
e ficar muito quietinho a ver,
os tecidos a tecer,
os cabelos a crescer.
E isto tudo a saber
que isto tudo está a acontecer!
As coisas melhores são de ar
só é preciso abrir os olhos e olhar,
basta respirar.
Manuel António Pina, in O Pássaro da Cabeça
Canção Infantil
Era um amieiro.
Depois uma azenha.
E junto
um ribeiro.
Tudo tão parado.
Que devia fazer?
Meti tudo no bolso
para não os perder.
Eugénio de Andrade, in Primeiros Poemas
E tantos, tantos outros poemas. Aqui podem encontram muitos e bons:
E se quiserem uma sugestão concreta de trabalho com a poesia, espreitem este belo exemplo de autoria da Cristina Taquelim.
Que encontrem sempre o tempo para ver a poesia do mundo!
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