quinta-feira, 15 de junho de 2023

OFICINA DE LEITURA E ESCRITA


Chega ao fim mais um ano (o 9º ano consecutivo) da Oficina de Leitura e Escrita (OLE). 
O que é a OLE? Um projeto continuado de mediação da leitura e da escrita que desenvolvo na minha cidade num espaço próprio, onde semanalmente, em pequenos grupos (do 3º ao 9º ano de escolaridade), lemos, relemos, dialogamos, escrevemos, pensamos, partilhamos e crescemos juntos, com um acervo de literatura para a infância e juventude de qualidade à disposição de todos para leitura autónoma em casa. Ao longo dos anos, a OLE também tem acontecido em escolas, bibliotecas municipais e outros espaços culturais, de forma pontual ou em continuidade. 

Em 2022/2023, com cada grupo, houve uma média de 25 encontros semanais. No final de cada ano letivo é o momento de refletirmos sobre a OLE e peço sempre a cada um que faça o balanço dos meses passados a ler e a escrever juntos. Aqui ficam algumas das avaliações dos aprendizes deste ano:


«Sinto que quando entro aqui estou no mundo dos livros.» 

                                                                                       C. (4º ano)


« (A OLE) faz com que a biblioteca da minha cabeça cresça.»

                                                                                       F. (4º ano) 


«Eu acho que evoluí muito enquanto leitora, porque agora tenho mais vontade de ler e tenho mais imaginação para escrever textos. Eu acho que aprendi a ver os pormenores e os detalhes que são muito importantes.»

                                                                                                               B. (4º ano) 

 

«Em tempos tão tensos e difíceis como os que temos vivido, tornou-se necessário algum tempo para refletir, ler e escrever longe de tudo. Longe das notícias das guerras, pandemias e crises. Longe das fortes opiniões da comunidade contidas durante dois anos. Durante aquelas horas éramos só nós, os livros, cadernos e canetas.»

                                                                                                                   M. R. (8º ano) 


«(...) aqui sinto-me bem, porque escrevo o que penso, e para mim isso é muito importante, exprimir o que está cá dentro."

                                                                                                          R. (6º ano)

 

«Este ano foi muito divertido. Escrevemos, imaginámos, crescemos e aprendemos todos juntos.» 

                                                                                                                 H. (6º ano)


"Aprendi a corrigir os meus erros gramaticais e a gostar ainda mais de ler e escrever. Evoluí enquanto leitora porque aprendi a ler melhor, e enquanto escritora, pois a estrutura, a gramática e o vocabulário dos meus textos evoluiu bastante.» 

                                                                                                                L. (5º ano)


«Noto que agora dou menos erros, escrevo textos maiores e hoje em dia até leio muito melhor.»

                                                                                                                D. (5º ano) 


«(A OLE) parece que tem uma barreira que não deixa os problemas entrarem e isso ajuda-me a estar concentrada no que estou a fazer e não nos problemas da minha vida.» 

                                                                                                              R. (7º ano)


«O meu primeiro ano na OLE foi fantástico. (...) Usaria um milhão de palavras para o descrever. Aprendi a ler melhor em voz alta, que existem poemas sem rima e mais outras coisas.»

                                                                                                           M. A. (4º ano)


«A OLE foi muito fixe por várias razões. Uma delas é que lemos todo o livro A Menina do Mar e também o Eu, o Andar por aí e o Gastão Vida de Cão, etc. Mas houve um dia que eu não gostei, foi quando fizemos um poema sem rima e eu estou habituado a fazer poemas com rima. O resto foi muito divertido.»

                                                                                                             M. (4º ano) 

 



quinta-feira, 8 de junho de 2023

UM LIVRO ONDE CABE A HUMANIDADE INTEIRA


Comprei este livro há exatamente uma semana, quando estive em trabalho no Algarve. No dia 3, na Biblioteca Municipal de Loulé Sophia de Mello Breyner Andresen, embora ele não fizesse parte da bibliografia pensada para a ação de formação "Os Livros para a Infância: Seleção de um Acervo Pessoal", fui buscá-lo à mala e disse às colegas mediadoras presentes, a propósito das nossas coleções em permanente devir: 
- Este livro ainda não faz parte do meu acervo pessoal, ainda não me sinto pronta para vos posso dar a minha opinião sobre ele, pois ainda não tive tempo de o ler com calma, com o tempo que ele requer, mas tenho quase a certeza de que, em breve, vai passar a fazer.
Houve quem dissesse (sorrindo, consciente do seu preconceito) que já o tinha visto, mas que não lhe dedicara muita atenção, porque pensou que se poderia tratar de um desses "livros-receita para" a inclusão. Afirmei que não me parecia que fosse esse o caso e prometi informá-las depois, talvez escrevendo sobre ele no blogue. Aqui vai:

Todos contam, da norueguesa Kristin Roskifte, editado em Portugal pela Lilliput, com tradução de João Reis, é um livro onde cabe a humanidade inteira, e todas as suas alegrias e forças, mas também os ridículos, os medos, as incertezas e as tristezas. Inteligente, divertido e poético, não é só um livro-álbum, nem só um livro para aprender a contar, nem somente um livro para "procurar e encontrar". É tudo isso e muito mais.

Tem um ritmo inicial lento e regular:



que se vai intensificando, com mais cor, páginas mais cheias e, por vezes, improvisos saltos matemáticos que nos transportam para cenários sempre novos.
 



Um livro para ler com lupa, com olhos de perguntador e ouvidos de bom conversador. Pleno de enigmas, mistérios e muitas questões, algumas das quais bem profundas. 
Podemos divertir-nos a seguir cada uma das personagens, acompanhando as diferentes narrativas individuais, construídas com doçura, compaixão, mas também com humor e ironia. Aqui a história de cada um importa. Todos contam, todos são importantes e estão, de alguma forma, relacionados. 
As guardas iniciais relevam uma panóplia de silhuetas humanas, que reencontramos no miolo do livro. No final, a surpresa é dupla, alargando exponencialmente a experiência de leitura e revelando mistérios semeados ao voltar de cada página. Receita garantida para o desejo de o reler muitas e muitas vezes.

Mais não conto! Só digo que este livro já faz parte do meu acervo pessoal, como bem vimos no dia 7, no primeiro de 4 encontros com docentes do Litoral Alentejano, através da ação de formação acreditada "Ler o Mundo e os Livros: Seleção de Acervos segundo critérios de Inclusão e Flexibilidade".