Haverá
momento mais doce do que aquele em que uma criança é acompanhada na
sua viagem até ao sono pelas histórias contadas pela voz de alguém
que ama? É assim que tem início este livro, e embora quem peça uma
história sejam sete ratinhos, reconhecemos neste ritual apaziguador
a nossa própria infância e a dos nossos filhos. Desta vez, porém,
o pai rato decide fazer algo ainda melhor: contará sete contos, um
por cada filho, se prometerem adormecer logo de seguida, o que os
ratinhos aceitam prontamente.
“O
poço dos desejos”, “Nuvens”, “O rato muito alto e o rato
muito baixo”, “O rato e os ventos”, “A viagem”, “O rato
muito velho” e “O banho” são narrativas breves com muitas
peripécias e obstáculos, mas com finais felizes, que encantam e
prendem a atenção dos leitores mais pequenos, pelo ritmo dado pela
contenção sintática e vocabular, pelos frequentes diálogos,
repetições, acumulações, humor, nonsense e suspense. A
componente pictórica não só complementa a narrativa verbal com
detalhe curioso e divertido (no índice inicial e ao longo de todo o
livro), mas expande-a , nomeadamente, quando no início localiza
espacialmente a ação numa casinha numa floresta coberta pela neve,
e no final, quando nos mostra o que faz o pai rato depois dos
pequenos terem adormecido. O caráter circular da diegese é
evidenciado pela ilustração redonda inicial que mostra o pai pronto
para contar à luz da vela e sete ratinhos bem despertos e que é
reproposta no final, quase como num jogo com o leitor, para que
descubra as diferenças e leia assim a passagem do tempo e o caminho
em direção ao sono e ao sonho.
Um
livro cheio de afetos e sorrisos para toda a família, que convida à
releitura atenta. Porém, os mais pequenos beneficiariam mais da sua
leitura se a tradução de Alexandre Honrado tivesse tido em conta
que este foi originalmente pensado como um “I CAN READ BOOK”, ou
seja, para ajudar no processo de aprendizagem da leitura.
Trinta
e um anos separam a edição em língua original (Mouse
Tales, 1972) da
sua publicação em Portugal, e Arnold Lobel, figura inquestionável
da Literatura Infanto-juvenil, dotado de um estilo essencial e
poético, capaz de abordar, sem moralismos, com grande simplicidade,
mas nunca de forma simplista, temáticas estruturantes para o
crescimento dos seus leitores como o conhecimento de si próprio e
dos outros, a família, a amizade, os medos, continua entre nós
amplamente desconhecido, com apenas mais 3 livros publicados, todos pela
mão da editora Kalandraka (Um
Porquinho, O
Tio Elefante, Sopa
de Rato).
Esperamos que 2014 nos traga as aventuras de Frog
and Toad!
Histórias de Ratinhos
Arnold Lobel
Lisboa: Kalandraka, 2003
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