A 16ª edição das Palavras Andarilhas marca um novo rumo para este Festival da Palavra lida, escutada e contada. Desde o primeiro momento, em 1999, as Palavras Andarilhas sempre tiveram na figura da Cristina Taquelim a sua grande artífice (inicialmente, ao lado do grande Figueira Mestre - até à sua morte). E esta foi a primeira edição sem a Cristina na programação e produção das Andarilhas.
Por estar a viver em Itália (de 1999 a 2006), apenas em 2007 comecei a ser Andarilha. Desde aí, nunca mais deixei de ir a esse "grande momento de aprendizagem coletiva, em torno da promoção da leitura, da narração oral e da literatura." Assisti, assim, a 8 destas 16 edições, e constatei como, de cada vez, o Festival se ia transformando e melhorando, como o pensamento que lhe dava estrutura e sustento era dinâmico e, sobretudo, guiado pela atenção às necessidades da população do concelho de Beja e pela busca da melhor forma de serviço público. A saída da cave da Biblioteca José Saramago para a Praça da República e depois para o Jardim Público, onde ainda permanece, revelam a preocupação de levar o festival à comunidade, de maneira a que não ficasse restrito às centenas de mediadores que vinham de todo o país para escutar e aprender com narradores, escritores, mediadores, ilustradores, tradutores, etc. Já aqui escrevi que o que vivíamos em Beja naqueles 3 dias dava-nos alento para o ano inteiro.
Todos os fios invisíveis que uniam as diferentes áreas de programação no desenho dos inúmeros eventos expositivos, formativos e performativos eram tecidos pelas sábias mãos da Cristina Taquelim. Em ninguém como nela vi (e vejo) um entendimento da promoção de leitura como um compromisso cívico, e como um todo, pensado de forma transversal. As exposições (muitas delas com a curadoria da Mafalda Milhões) inauguradas na cave por altura das Palavras Andarilhas eram lugares de leitura para o trabalho com escolas e famílias durante todo o ano letivo seguinte. Os conferencistas e os especialistas convidados a dinamizar as oficinas eram chamados pela sua competência em campos específicos, de modo a ajudar a pensar e suprir necessidades reveladas no trabalho de mediação do ano anterior ou como sustento para novos projetos a implementar. Ali escutámos tantas pessoas importantes para o nosso crescimento pessoal e profissional (nomeá-las a todos seria quase impossível, dada a vastidão da lista de participantes de cada edição).
Em suma, todos nós, mediadores de leitura e narradores portugueses, somos devedores à Mulher-Palavra, pelo tanto que com ela aprendemos e pelo seu exemplo. Solto daqui o meu aplauso à grande Cristina Taquelim, que deixou no final de 2019 a função pública, mas nunca deixou o serviço público. E acho uma injustiça que a tenham nomeado tão poucas vezes no palco das Andarilhas deste ano.
Que as novas Palavras Andarilhas saibam honrar o seu legado.
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