«A leitura é um processo de humanização pela capacidade que oferece de linguagem, de pensamento e de reflexão. Leva a uma mudança de aspiração na vida, pois lendo você descobre que há outros caminhos, outras opções.»
Eliana Yunes
Realizámos a última de 18 sessões na praia de Sines, fazendo jus ao título do projeto. No alto da escadaria que subimos para regressar à escola, deparámo-nos com a linha do horizonte sobre a imensidão do mar. Enquanto registávamos fotograficamente aquele momento, ao relembrar aos alunos porque decidira assim nomear a nossa oficina, refleti em como este projeto alargara verdadeiramente os horizontes de vida destas crianças. Ao ler, escrever e dialogar sobre o lido e escrito, o mundo dos alunos do 3º B expandira-se grandemente em poucos meses. Pensei nas palavras da conferência de Eliana Yunes na semana anterior no XIX Encontro de Literatura Infantojuvenil Caminhos de Leitura, em Pombal: “uma vez leitor, sempre leitor. E uma vez descoberto o segredo de saber o que não se sabia, impossível parar, a não ser por acidente”.
Estivemos um ano (letivo) inteiro envolvidos num projeto de promoção e mediação da leitura e da escrita, financiado pela candidatura de recuperação das aprendizagens, (RE)LER com a Biblioteca, da Rede de Bibliotecas Escolares, numa escola que pertence ao programa TEIP (Territórios Educativos de Intervenção Prioritária): “a ver, ler, descobrir, escrever”.
Tenho tanto a dizer e a escrever sobre este projeto! Mas isso ficará para o regresso ao trabalho após as férias de verão. Por hoje, quero apenas expressar a imensa alegria e gratidão pelo convite da professora Maria de Fátima Nunes a pensar e a dinamizar as sessões da Oficina de Leitura e Escrita com estas crianças.
A aposta feita num projeto de mediação da leitura e da escrita prolongado no tempo e com caráter regular demonstrou-se extremamente acertada. Só desta forma foi possível acompanhar o crescimento dos alunos enquanto leitores e escritores e construir uma relação de confiança, cumplicidade e afeto entre a mediadora e as crianças, capazes, assim, de se entregarem ao prazer da leitura, de questionar e interpretar os livros, de enfrentar as dificuldades inerentes à escrita e de criar os seus próprios textos. Os bons resultados obtidos só foram possíveis devido à total colaboração, bem como presença e apoio constante da professora titular, Rute Torres, das professoras bibliotecárias, Maria de Fátima Nunes e Rosa Martins (que também dinamizaram algumas sessões em semanas em que não tocava à mediadora) e das docentes de apoio, Maria João Lopes e Orlanda Ramos. E não posso deixar de agradecer do fundo do coração às autoras que enriqueceram este projeto e participaram em encontros memoráveis para estes leitores / escritores: Cristina Taquelim e Mafalda Milhões (por carta e online) e Carla Maia de Almeida (presencialmente). A minha profunda gratidão a todas!
A metodologia da Oficina de Leitura e Escrita nos seus momentos essenciais (a saber: leitura, releitura, diálogo, escrita, partilha, leitura autónoma), tal como a desenvolvo desde 2014, provou-se muito eficaz também em grupos maiores (turma) em sala de aula e, como neste caso, com uma turma com grandes e reconhecidas dificuldades ao nível da aprendizagem da leitura e da escrita que motivaram a candidatura ao programa (RE)LER da RBE no final do ano letivo 2020/2021.
Apesar de a turma ainda revelar dificuldades ao nível das aprendizagens curriculares esperadas para um 3º ano, os resultados falam por si, a saber:
- Grande evolução na compreensão leitora, concretamente da capacidade de leitura da narrativa visual e da narrativa textual, encontrando-se os alunos, neste aspeto, no final do ano letivo, a par ou mais avançados do que a média dos alunos que frequentam o mesmo ano de escolaridade.
- Grande evolução na relação
afetiva e estética com a literatura para a infância de qualidade, tendo os
alunos lido de forma partilhada, isto é, com a mediadora, ou autónoma, cerca de
50 livros de reconhecida qualidade literária e estética cada um em 2021/2022.
- Bom progresso na competência de
escrita (em quase todos os alunos, com exceção de 4 alunos que ainda não
dominam a leitura e a escrita, quando no início do ano letivo o panorama era exatamente o oposto, isto é, poucos eram os que conseguiam ler e escrever), visível na autonomia com que escrevem e na
vontade de escrever no caderno, mesmo quando a mediadora não o solicita.
- Ampliação do vocabulário, domínio e fluência cada vez maior da linguagem oral e escrita, a apontar ao
contacto regular com a literatura para a infância de qualidade e à prática
continuada do diálogo em tono do lido e da escrita. A leitura tornou-se escrita e a escrita fomentou a
leitura, incentivando-se e influenciando-se mutuamente.
- Crescente valorização pessoal e
reconhecimento dos alunos perante si próprios e perante a turma, enquanto
leitores e escritores.
A evolução dos alunos nestes
diferentes campos é reconhecida pela mediadora, pela docente titular, Rute
Torres, pelas professoras bibliotecárias, Rosa Martins e Maria de Fátima Nunes,
bem como pelos próprios alunos, a quem foi pedido que avaliassem o projeto.
Algumas das suas considerações registadas nos cadernos pessoais do (RE)MAR:
“Eu acho que evoluí como leitor e escritor, porque eu não gostava de ler, nem escrever, mas (...) percebi que ler e escrever é muito bom para a nossa alma e a nossa mente.”
“Eu acho que evoluí como leitora e escritora, porque eu antes achava que não conseguia fazer textos grandes e agora já consigo.”
“Eu não acreditava que ler era bom, mas agora gosto de ler os livros. E gostei muito destes 18 encontros com a Paula. E também com as autoras Cristina Taquelim e Mafalda Milhões e a escritora Carla Maia de Almeida.”
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