segunda-feira, 31 de março de 2014

Teatro do Mar | âmbulo

Esta sexta-feira, dia 28 de Março, ainda a celebrar o Dia Mundial do Teatro, assisti a uma peça magnífica inspirada no livro Emigrantes (The Arrival), de Shaun Tan.



 
 
 
 
 
"ÂMBULO (aquele que se move) desconstrói o conceito de narrativa. Emocional e sem recurso à palavra, de carácter poético e contemporâneo, neste espetáculo, cruzam-se as linguagens do teatro físico e visual com a dança, as formas animadas, o vídeo e a música original. (...)
 
Em ÂMBULO, tal como na obra de Shaun Tan, as palavras são substituídas por imagens que nos lembram velhas ilustrações ou fotografias em sépia, que falam por si mesmas, assentes numa história simples e num fenómeno cada vez mais comum como é o caso da emigração. A encenação reflete a estética de uma novela gráfica, desenhada na dimensão da luta, do sofrimento e da esperança daqueles que são obrigados a partir em busca de uma vida melhor." (do folheto divulgativo)
 




A linguagem do teatro ao seu mais alto nível. Capaz de encantar audiências em todos os cantos do mundo. Tal como o livro de Shaun Tan.
A maior parte das pessoas que enchiam o auditório da ESPAM, em Vila Nova de Santo André, não conhecia o livro. Apercebi-me disso nas conversas antes e após o espetáculo. Mas quem o conhecia não se sentiu defraudado. Muito pelo contrário. Sentia-se o profundo respeito pela obra na qual a peça fora inspirada e jamais a tentativa de a emular. Os mais pequenos detalhes demonstravam a capacidade criativa e a grande qualidade da encenação de Julieta Aurora Santos. Excelentes as interpretações de Luís João Mosteias, Sérgio Vieira, Sandra Santos e Fábio Rocha de Carvalho.

Senti-me tão grata por aqui no litoral alentejano me ser dada a oportunidade de assistir a este ÂMBULO perfeito! Agradeço ao Teatro do Mar, mas, sobretudo, agradeço ao Mário Primo, fundador da Associação AJAGATO, diretor da Mostra Internacional de Teatro de Santo André e que, para contrariar a crise, apostou agora num Plano de Acolhimento de Espetáculos, trazendo todos os meses uma peça diferente a este palco!

quarta-feira, 26 de março de 2014

Catarina Sobral vence Prémio Internacional de Ilustração

Catarina Sobral ganhou hoje a 5ª edição do Prémio Internacional de Ilustração Bologna Children's Book Fair - Fundación SM!

 
 
No site da Feira é possível ler a motivação do júri (minha tradução):
 
"O júri (...) composto por Sophie van der Linden, da França, Roger Mello, do Brasil, e Pablo Nuñez, de Espanha, reunido na Feira de Bolonha no dia 24 de Março de 2014 reconhece:
 
- a grande maturidade e a forte identidade pessoal da obra vencedora;
- a síntese gráfica da composição;
- a capacidade de transmitir sensações íntimas e profundas utilizando linhas puras e cores primárias;
- a eficácia narrativa polvilhada de sentido de humor;
- as referências à tradição gráfica dos anos 50 interpretada de forma contemporânea;
- a bem conseguida composição da imagem baseada em figuras geométricas essenciais.
 
O júri decidiu, portanto, atribuir, por unanimidade o 5º Prémio Internacional de Ilustração Bologna Children's Book Fair - Fundación SM à ilustradora portuguesa Catarina Sobral."
 
 
 
 
Muitos parabéns à Catarina Sobral, pelo seu enorme talento, e à sua editora, a Orfeu Negro.



terça-feira, 25 de março de 2014

BARBRO LINDGREN ALMA 2014

 É Barbro Lindgren, autora sueca, a premiada com o Astrid Lindgren Memorial Award de 2014.

 
 

Embora faça para o ano 50 anos de carreira literária, a obra da autora não se encontra publicada em Portugal. Desconheço-a quase completamente. Apenas folheei uma vez, numa das lindíssimas e bem recheadas - de livros e de leitores - bibliotecas de Estocolmo, um livro infantil de Barbro Lindgren, Mamma och den wilda bebin (The Wild Baby é a tradução inglesa), ilustrado por Eva Eriksson:
 
 
Na sua motivação para a atribuição do prémio, o júri refere o caráter pioneiro da sua escrita, defendendo que a autora reinventou não só o picture book para os mais pequenos, mas também a história absurda em prosa, o poema existencial para crianças, e a ficção realista para jovens adultos.
 
Ao saber que tinha ganho este prémio, Barbro Lindgren disse estar muito feliz, pois tudo havia começado com uma carta da própria Astrid Lindgren, em que esta lhe explicava como escrever uma boa história. "Segui os seus conselhos e essa carta foi a minha universidade".
 
Astrid Lingren trabalhou numa casa editora durante quase 25 anos e recebeu inúmeros manuscritos de aspirantes escritores para a infância e juventude. Nesta carta , datada de 20 de Dezembro de 1964, em que responde ao envio da primeira tentativa de publicação da agora laureada ALMA,  Astrid Lindgren escreve (minha tradução):
 
"(...) a autora sabe tanto sobre crianças. Mas não sabe tanto sobre como construir e manter o interesse num manuscrito. O mesmo problema tem sido a causa do falhanço de muitos outros manuscritos - o autor indulgentemente supera as dificuldades saltando de um episódio para outro sem retirar o melhor de cada um deles. Muitos fazem isso, pois é uma maneira fácil de escrever livros.
Mas no seu caso, sente-se que, se se esforçasse um pouco, poderia voltar a pegar no livro e entregar algo com muito interesse. Como é que isto se faz, sim, gostaria, acredite, de saber explicar o que quero dizer! Só lhe posso dar algumas diretrizes. Antes de mais, menos episódios e menos personagens que nem se conseguem saborear. Cada capítulo deve ser uma espécie de conto com um núcleo sólido. Faça de conta que lhe deram um exercício de escrita: escrever de forma completa e detalhada como Mats uma vez fugiu para casa da avó. (...) Faça de conta que a sua tarefa é escrever sobre isso - e apenas sobre isso - continuando até sentir que a tensão se acumula de forma perfeita e a agarra até ao final."
 
Um excelente conselho para quem quer ser escritor, não acham?

segunda-feira, 24 de março de 2014

O Centro do Mundo do Livro Infantil

Todos os anos, por esta altura, Bolonha é o centro do mundo, no que ao Livro Infantil diz respeito. É na Fiera del Libro per Ragazzi di Bologna que se juntam profissionais (editores, escritores, ilustradores, tradutores, agentes literários, distribuidores, livreiros, bibliotecários, docentes, etc) dos 5 continentes para traçarem o destino da editoria infantil dos próximos tempos.


País convidado da edição de 2012, Portugal levou a Itália a exposição de ilustração Como as Cerejas, que neste momento pode ser visitada no Centro Cultural de Belém, com oficinas de ilustração orientadas por Danuta Wojchiechowska.

 
Este ano a Feira faz 50 anos e o nosso país estará representado pela DGLAB, que no seu espaço dará destaque à vencedora do último Prémio Nacional de Ilustração, Ana Biscaia, com A cadeira que queria ser sofá, e a uma mostra de livros recentemente editados em Portugal.  Presentes estarão ainda a equipa Planeta Tangerina, bem como as editoras Pato Lógico e Orfeu Mini.

O Brasil será o convidado de honra deste ano.



Um dos elementos mais importantes desta Feira é a Exposição de Ilustração, verdadeira montra de prestígio mundial. Este ano, dos 3190 participantes, foram selecionados 75 artistas. Apenas uma é portuguesa: Catarina Sobral, com as ilustrações de O Meu Avô, editado pela Orfeu Mini.

 
 
Este ano, pela primeira vez, foi também pensado um espaço, o pavilhão 33, com uma programação especialmente concebida para as escolas e famílias.
 
Amanhã, às 11:50 portuguesas, será anunciado online o vencedor do Astrid Lindgren Memorial Award, de que já falei no ano passado. Este ano os candidatos portugueses são António Mota e Planeta Tangerina. A contagem decrescente já começou e o anúncio poderá ser acompanhado através deste link e também na Feira Internacional do Livro Infantil de Bolonha, como já é tradição.


sexta-feira, 21 de março de 2014

Poesia

Hoje de manhã desejaram-me Feliz Dia da Poesia! E eu sorri, grata por me lembrarem que é dia de ver a poesia do mundo. Como deviam ser todos os dias.

 
 
A poesia, segundo Maria Alberta Menéres, em O poeta faz-se aos 10 anos,  é: "(...) a beleza e o sentido das coisas e de nós próprios. É uma maneira de olhar o mundo. É uma forma de atenção a tudo. Ela pode estar em toda a parte: nós às vezes, é que não estamos onde ela está, só porque passamos ou vivemos distraídos."
 
 
 
Ou, como afirma Alice Vieira, no prefácio a O Meu Primeiro Álbum de Poesia, "(...) a poesia, apesar de se fazer com palavras, está muito além delas. É aquilo que essas palavras conseguem levar e depositar no nosso coração. E para que isso aconteça, não é preciso que sejam palavras complicadas, frases elaboradas, rimas perfeitas."
 
 
 
Pois a verdade é que "o poeta tem olhos de água para refletirem todas as cores do mundo, e as formas e as proporções exatas, mesmo das coisas que os sábios desconhecem", como disse Manuel da Fonseca.
 
A poesia faz parte do meu trabalho. Uso-a nas sessões de contos, ou nos ateliers de escrita e é várias vezes tema das Comunidades de Leitores que dinamizo.
Considero essencial esse olhar inaugural que a poesia nos oferece. Penso que é fundamental contagiar os mais pequenos através da leitura e dessa "pedagogia do deslumbramento" de que fala Luísa Dacosta.
 
Através, por exemplo, de poemas como estes:
 
 
Bichinho de Conta
 
Bichinho de conta
conta...
E o bichinho de conta
contou 
que um dia
se enrolou
e parecia
um berlinde pequenino
de tal maneira
que um menino
de brincadeira
com ele jogou...
 
Bichinho de conta
conta...
 
E o bichinho de conta
contou.
                Sidónio Muralha in Bichos, Bichinhos e Bicharocos
 
 
 
A Cabeça no Ar
 
As coisas melhores são feitas no ar,
andar nas nuvens, devanear,
voar, sonhar, falar no ar,
fazer castelos no ar
e ir lá para dentro morar,
ou então estar em qualquer sítio só a estar,
a respiração a respirar,
o coração a pulsar,
o sangue a sangrar,
a imaginação a imaginar,
os olhos a olhar
(embora sem ver)
e ficar muito quietinho a ver,
os tecidos a tecer,
os cabelos a crescer.
E isto tudo a saber
que isto tudo está a acontecer!
As coisas melhores são de ar
só é preciso abrir os olhos e olhar,
basta respirar.
                 Manuel António Pina, in O Pássaro da Cabeça
 
 
 
Canção Infantil
 
Era um amieiro.
Depois uma azenha.
E junto
um ribeiro.
 
Tudo tão parado.
Que devia fazer?
Meti tudo no bolso
para não os perder.
                Eugénio de Andrade, in Primeiros Poemas
 
 
E tantos, tantos outros poemas. Aqui podem encontram muitos e bons:
 
 
 
 
 
 
 
 
 
E se quiserem uma sugestão concreta de trabalho com a poesia, espreitem este belo exemplo de autoria da Cristina Taquelim.

 
 
Que encontrem sempre o tempo para ver a poesia do mundo!