Chorei a primeira vez que li estes textos da São Correia, cofundadora da Chão Nosso. Há um ano e meio, ainda eles eram apenas um molho de folhas impressas que a Cristina Taquelim viria a transformar em livro. Se não fosse ela, esta obra não existia. Chamou a Catarina, o Manel e também a mim. Insistiu, encorajou, acreditou, brava editora, a todos acompanhou, trabalhou muito mais do que todos nós juntos e o Abraço nasceu. A São validou todas as fases do livro.
Continuo a emocionar-me de cada vez que o leio, abraçada por uma escrita quente, pintada com os cheiros e as cores de uma infância feliz e à solta. Abraço é um livro de memórias, mas não é um exercício de memória, pois esses resultam quase sempre vazios. Estas são vivências autênticas, inscritas nos gestos, no corpo e no verbo, com humor generoso, com alegria ou com dor e tristeza.
A São tem uma voz muito própria e, nestes 70 textos/contos, dá vida a todo um mundo (a Lagos da sua infância e juventude, as suas gentes e costumes, mas não só). Este é também um livro sobre a condição da mulher, sobre outras (duras) infâncias, sobre envelhecer, sobre viver, sobre os ritmos da natureza. Ao nomear e narrar, a São reconhece o valor e a beleza, a importância de todo o vivido.
As ilustrações da Catarina Bico são delicadas e poéticas, perfeitas companheiras para estas palavras. Um trabalho belíssimo!
Hoje às 18h, é apresentado na Biblioteca Municipal de Lagos. Vai ser uma festa bonita e uma grande homenagem à São, que bem a merece.
P.S. São, perdoa-me as gralhas (encontrei hoje uma: maldito i!) que deixei passar! Prometo que corrigirei tudo na 2ª edição.