quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

As melhores prendas de Natal

Daqui a algumas horas, na manhã de Natal, as crianças abrirão os embrulhos e lá dentro encontrarão, espero, as melhores prendas: as que desfazem estereótipos e preconceitos, as que alargam horizontes, as que estimulam a sua imaginação e criatividade, as que lhes proporcionam brincadeiras infinitas.

Provavelmente, já muitos terão lido as instruções para os pais da autoria da Lego (1973), mas como acho que vale a pena lembrar, deixo aqui a minha tradução:

"Para os pais,
A vontade de criar é forte em todas as crianças. Sejam meninos ou meninas.  O que conta é a imaginação. Não a habilidade. Podes construir o que te vem à cabeça, da maneira que quiseres. Uma cama ou um camião. Uma casa de bonecas ou uma nave espacial. Muitos meninos gostam de casas de bonecas. São mais humanas do que as naves espaciais. Muitas meninas preferem naves espaciais. São mais excitantes do que as casas de bonecas. O mais importante é dar-lhes o material certo e deixar que criem o que quer que as fascina."

Desejo a todos os pais serenidade e sabedoria, para que no sapatinho os seus filhos encontrem não muitos presentes, mas pelo menos uma das melhores prendas que acima referi, e que essa prenda sirva para muitas brincadeiras em família. 

Por exemplo, livros: 




Todos fazemos tudo, de Madalena Matoso
Planeta Tangerina



Um livro-jogo, tipo méli-melo, sem palavras, com detalhes divertidos. Na parte de cima, é apresentada a personagem e o seu contexto espacial e temporal. Na parte de baixo, descobrimos o que está a fazer. O leitor vai construindo as inúmeras histórias possíveis, num mundo em que a raça, o sexo, a idade não constituem limites. 
Editado originalmente pelas Editions Notari, com o título Et porquoi pas toi?, foi vencedor de um concurso lançado pelo município de Genebra (Suíça) com o intuito de sensibilizar para a igualdade entre homens e mulheres. 




Não é uma caixa, de Antoinette Portis
Editorial Presença

Um livro que me recorda a minha infância. Quando uma caixa de papelão era muito mais do que isso! Saltava lá para dentro e passava horas a brincar com ela. Era casa, barco, avião... 
Espreite aqui o link do trailer da edição brasileira: http://youtu.be/2cJkA9h3Hxk







Immagina..., de Norman Messenger
White Stars

Pode descobri-lo aqui: http://youtu.be/bDXyNYdFSqY
Pleno de imagens que se transformam, enigmas, objetos escondidos, este livro garante diversão para toda a família. Convida-nos a não colocar limites à fantasia, deixando que todos construam as suas brincadeiras / leituras sem condicionamentos.


Que o novo ano traga para os nossos filhos um mundo de possibilidades infinitas!

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

A Importância da Leitura na Creche / JI "O Montinho"


fotografia de Renato Paiva
No dia 2 de Dezembro, dinamizei a palestra “A Importância da Leitura para o Desenvolvimento Emocional, Cognitivo e Criativo da Criança” na Creche / Jardim-de-Infância “O Montinho”. Gostaria de agradecer à Santa Casa da Misericórdia de Santiago do Cacém, em particular, à sua Diretora, a Dra Ana Calado, e à coordenadora pedagógica, Ed. Antonieta Pereira, a oportunidade de partilhar, com os cerca de 50 pais e profissionais daquela instituição, ideias acerca da relevância de um contacto precoce com livros de qualidade, através de uma leitura partilhada dos mesmos, em família.

Dedicar quotidianamente um pouco do tempo que passamos com os nossos filhos a escolher um livro, a folhear as suas páginas, a ler em voz alta, a interrogar e a descobrir os significados possíveis escondidos nas ilustrações e nas palavras que narram a história, enfim, a conversar com as crianças acerca dos livros e da leitura é fundamental para a aquisição de hábitos de leitura. Refletimos acerca dos benefícios desta prática para o fortalecimento dos laços afetivos entre pais e filhos, bem como para a socialização e conhecimento de si próprio e do mundo. Vimos ainda, através de exemplos concretos de bons livros, como a leitura partilhada potencia o desenvolvimento intelectual, a capacidade de expressão, a concentração e a criatividade da criança. Confirmámos o ritual da canção de embalar e da história da boa noite como fator que contribui para uma boa higiene do sono. Em suma, compreendemos a importância fulcral da qualidade dos estímulos precoces para o desenvolvimento global da criança.

Talvez em 2015 nasça um novo grupo das Conversas Pequenas, desta feita, para as famílias, para aprofundar estas questões, na teoria e na prática, pois muitos têm sido os pais que me têm contactado para conselhos e sugestões concretas de boas leituras.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

O meu avô, o cante e os contos

O meu avô Manuel, que faria daqui a uns dias 94 anos, teria ficado tão feliz com a notícia de que o cante foi declarado património imaterial da humanidade.
ilustração de Susa Monteiro
Nas noites de Inverno em que estávamos juntos, à lareira, o meu avô Manuel contava-nos histórias que alargavam o serão. Eram contos de meninos travessos, de princesas preguiçosas, de um touro azul. Histórias que ainda hoje habitam os meus sonhos.
 
Natural de Aljustrel, mineiro no Lousal durante 25 anos, o meu avô Manuel, já velhinho, emocionava-nos a todos com a sua voz forte sempre que cantava as modas antigas.

ilustração de Susa Monteiro
                           

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

2ª Temporada das Conversas Pequenas

Conversas Pequenas foi o nome escolhido para a Comunidade de Leitores de Literatura Infantil que dinamizo, destinada a docentes, técnicos de biblioteca, animadores socioculturais, psicólogos, etc, e que começou no ano passado, em Santiago do Cacém.

                 il. Polly Dunbar
 
No primeiro ano, os encontros, verdadeiros momentos formativos, aconteceram no Jardim-de-Infância e Sala de Estudo "O Sabichão", onde a sua diretora, Carminho Rodrigues, acolheu o projeto e sempre tão bem nos recebeu. Nesta segunda temporada, as Conversas Pequenas mudaram-se para um espaço próprio, a "Casa das Palavras" e o primeiro encontro teve lugar a 5 de Novembro, sob o tema "A Biblioteca (de turma/ sala / escola).
 
Em breve, terão início os encontros para pais e familiares.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Sementes Andarilhas


As Palavras Andarilhas nunca terminam no final dos três dias do encontro. Mais uma vez, a Estafeta de Contos viaja pelo país, teimando em deixar sementes por onde passa.  Partiu de Beja, foi para sul e na próxima semana chega a Santiago do Cacém. Iremos recebê-la a 4 de Novembro, no Jardim-de-Infância "O Sabichão".

Eu continuo a pensar em tudo o que recebi nesta XIII edição: sorrisos, abraços, palavras, inspiração, conhecimento, magia, sonhos e força para os concretizar. Penso nas sementes que lancei: interrogo-me, curiosa, se alguma já germinou...

 
 
 
 

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Setembro: Recomeço


Setembro bateu hoje à porta. Feliz, deixei-o entrar. Após um Verão cheio de inesquecíveis aprendizagens e encontros (que culminaram nas Palavras Andarilhas, este fim-de-semana, de que falarei brevemente), de dias de sol e de mar, de tantas e tão boas leituras, sabe bem recomeçar! É hora de pensar e concretizar projetos sonhados, de voltar a mediar leituras, de encontrar rostos de crianças e adultos conhecidos e por conhecer, de ler ainda mais e começar a escrever uma tese.
 
Hoje é também o dia em que milhares de professores regressam às escolas. Um bom recomeço para todos! Que transformem todos os dias do próximo ano letivo em dias extraordinários de escola, como o professor deste livro:



Para que os seus alunos sejam capazes de sonhar e construir um futuro melhor.


 
 

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Ler e Escrever Agosto

Começa hoje o mês em que a maioria dos portugueses tira férias. Em Agosto, há (ou deveria haver) tempo para brincar, conversar e ler em família. No ano passado, deixei aqui várias sugestões de leitura. Este ano proponho um só livro, pequenino e maravilhoso, daqueles que a equipa do Planeta Tangerina sabe fazer tão bem.
 
 
"Cada manhã traz-nos sempre um dia por estrear, um dia por abrir, um dia por desembrulhar… Mais tarde, quando fazemos o balanço dos dias, encontramos dias para todos os gostos, desde aqueles verdadeiramente memoráveis, aos que passam por nós quase sem darmos por eles.
Um livro pelo qual desfilam muitos dias e momentos, capazes de nos transportar através da memória dos nossos próprios dias.
Um livro para crianças crescidas e também para adultos que gostam de livros ilustrados." (texto de apresentação do livro no site da editora).
 
Este é claramente um livro para leitura partilhada, entre pais, avós, tios, filhos, netos, primos e amigos. Suscita muitas reflexões e muitas perguntas, muitos sorrisos. Um livro para ler e reler com a calma dos dias azuis e deste Agosto de reencontros.
 
 
 
Com certeza que neste mês de Agosto muitas das páginas do livro refletirão os vossos dias. Querem experimentar?
 
 

 
Num pequeno "Caderno para todos os dias", inspirados pelas palavras de Isabel Minhós Martins e pelas ilustrações de Bernardo Carvalho, criem o ritual de pensar, escrever e ilustrar, em família, como foi cada vosso dia de Agosto, saboreando todos os momentos, mesmo os de dificuldade.
 
 
 
No final do mês, contem-me como correu!

 
 
 

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Palavras Andarilhas 2014

Aproximam-se a passos largos os dias mágicos passados em Beja, em redor dos contos e dos livros, partilhados com centenas de pessoas que ali rumam em busca de novas aprendizagens e encontram sempre muito, muito, muito mais.

                                     


Chegadas à XIII edição, as Palavras Andarilhas continuam a ser o maior e melhor encontro de narração oral e promoção da leitura organizado em Portugal. Como por encanto, em cada nova edição somos surpreendidos por um programa sempre novo, cuidadosamente tecido pela Cristina Taquelim e pela fabulosa equipa da Biblioteca Municipal de Beja. Nada é deixado ao acaso, tudo se conjuga na perfeição para fazer dos dias que lá passamos tesouro inesgotável de ideias, crescimento e memórias.

Comecei a ir às Palavras Andarilhas a partir de 2007  (antes disso estava a viver no estrangeiro, estava desculpada!) e recordo emocionada encontros que me marcaram pessoal e profissionalmente: Daniel Pennac, Maurício Leite, Ana García Castellano, Michéle Petit, Rodolfo Castro, Nicolás Buenaventura Vidal, Pep Bruno, Marina Colasanti e Affonso Romano Sant'Anna. Mas lembro, sobretudo, as conversas que, por mais pequenas que sejam, são sempre tão enriquecedoras, e o ambiente de festa e partilha que nos envolve.

Com os anos, o encontro saiu da cave da Biblioteca  Municipal e estendeu-se a outros espaços da cidade. Em 2012, encontrou um poiso perfeito no Jardim Público, enchendo-o de palavras, de dia e de noite. A ele voltaremos em Agosto.
 
 
 
Com os anos, o encontro deparou-se com muitas dificuldades, sobretudo, de cariz económico e político. Porém, nada demoveu a equipa que com carinho e coragem nos continua a oferecer cada vez melhores Palavras Andarilhas.

Este ano, o programa desenvolve-se em redor de três temáticas:
- leitura e literatura na infância;
- função social da leitura;
- narração oral e contexto de intervenção.

No âmbito do segundo ponto, estarei pela primeira vez como convidada. Não escondo a minha emoção! Se se  quiserem juntar a nós, no dia 28 de Agosto, às 12:00, estaremos a refletir em pequenos grupos pelas sombras do jardim "De olhos nos olhos: Função Social da leitura e contextos de intervenção". Para além de mim, estarão o Jorge Serafim, o Miguel Horta, a Susana Gomes, a Cláudia Fonseca, o Paulo Monteiro, a Biblioteca Municipal de Beja, todos com diferentes perspetivas.
 
Irei falar de "SEMENTES: O TEMPO DA LEITURA É O TEMPO (LENTO) DO ENCONTRO
Onde se fala da mediação leitora como sementeira e do acto de ler como encontro. Condições essenciais para que os dois aconteçam são o tempo, necessariamente, lento, e a atenção. Vamos regar as nossas palavras com bons livros, autores inspiradores e sugestões concretas. Depois, vamos esperar que floresçam."
  
 
 
Para quem ainda não conhece este Festival de Aprendizes do Contar, encontra aqui uma breve história.
  
No site http://palavrasandarilhas.wordpress.com poderá consultar toda a informação sobre o programa e as oficinas, os intervenientes, as edições anteriores, etc, e proceder à inscrição.

sábado, 14 de junho de 2014

A Melhor Lista de TPCs para as Férias de Verão

Terminou esta semana mais um ano letivo. Muito provavelmente, os vossos filhos trouxeram para casa a famosa lista dos TPCs para férias ou o famigerado livro de fichas aconselhado.
Em Itália, circula atualmente no Facebook  uma lista de TPCs para as férias de Verão, publicada por uma mãe, em que se elogia a fantástica professora da filha pela criatividade e originalidade. A história chegou até aos jornais. Mas a triste verdade é que ninguém cita o autor desta lista, que não é a professora...
Porque a lista contém muito daquilo que os nossos filhos e alunos deveriam fazer após 9 meses de trabalho na escola, publico a tradução do original, cujo autor é  Echino Giornale Bambino, um menino de papel de jornal, criação da ilustradora Elisa Squillace e da escritora Maria Giuliana Saletta:
"Proponho que sejamos nós, as crianças, a decidir quais os trabalhos de casa a fazer durante as férias. Faço-vos uma lista dos que eu gostaria, vocês escrevam a vossa! Quem sabe se não conseguimos convencer a nossa mãe, o nosso pai, ou a professora / o professor, pois já trabalhámos durante nove meses e agora merecemos FÉRIAS.

 LISTA DOS TPCs PARA AS FÉRIAS:
- Dar pelo menos uma cambalhota por dia.
- Correr nos prados ou na praia.
- Gritar ao eco: "Olá, quem é o mais bonito de nós dois? e escutar o que ele responde.
- Pedir para nos levarem a uma livraria e vaguear à procura de um bom livro (colorido e simpático) parênteses meus, por achar os adjetivos desnecessários e até enganadores. E acrescento: ou biblioteca.
- Aborrecer-se (entediar-se) de vez em quando.
- Provar todos os  sabores de gelado.
- Observar as estrelas cadentes e exprimir o desejo mais belo. 
- Pedir ao avô que nos leia uma história em voz alta e, a duas páginas  do final, fechar o livro e brincar a como a historia pode terminar, depois ver como efetivamente acaba.
-  Escrever uma carta à avó. Também vale um desenho.
- À escolha, mas pelo menos duas: ir à pesca com o pai, fazer um bolo com a mãe, ir ao cinema ao ar livre com os amigos, mergulhar no mar, visitar um museu.
- Inventar os palavrões para dizermos quando estamos zangados, tipo: oh bulacas! peracozida!,  caradecanjaaquecida!
- Contar quantas coisas bonitas fizemos durante a semana. 


Que esta lista, aparentemente ligeira, mas de uma riqueza intrínseca enorme, nos inspire a refletir e a levar a pensar os nossos filhos / alunos sobre a importância das férias, do ócio, da felicidade e da partilha.

Aqui em casa, as férias e as leituras de Verão já começaram. A primeira é:




Entretanto, este blogue também vai de férias! Vemo-nos a 21 de Julho! 

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Rubem Alves, o vagar, a curiosidade, o amor e a leitura

O brasileiro Rubem Alves tomou contacto com o modelo pedagógico de Gianfranco Zavalloni e escreveu sobre ele no livro de crónicas A Pedagogia dos Caracóis, editado em 2010 e finalista do 53º Prémio Jabuti na categoria Contos e Crónicas.
Um excerto de uma delas (obrigada, Susana Cheis, por ma teres mostrado!) dá muito que pensar:

" A lentidão é virtude a ser aprendida num mundo em que a vida corre ao ritmo das máquinas. Gastar tempo conversando com os alunos. Saber sobre as suas vidas, os seus sonhos. Que importa que o programa fique atrasado? A vida é vagarosa. Os processos vitais são vagarosos. Quando a vida se apressa é porque algo não vai bem. Adrenalina no sangue, o coração disparado em fibrilação, diarréia. Observar as nuvens. Conversar sobre as suas formas. A observação das nuvens faz os pensamentos ficarem tranqüilos.

As notícias dos jornais são escritas depressa. Por isso têm curta duração. Mas a poesia se escreve devagar. Por isso ela não envelhece. Inventaram essa monstruosidade chamada leitura dinâmica. Ela pressupõe que um texto é feito com poucas idéias centrais, tudo o mais sendo encheção de lingüiça. A técnica da leitura dinâmica é ir direto às idéias centrais, desprezando o resto como lixo. (...)  É preciso ler tendo a lesma como modelo... Devagar. Por causa do prazer. O prazer anda devagar. Você leu esse artigo dinamicamente ou lesmicamente ?
"

E neste vídeo de 3 minutos quantas verdades: partindo do papel do professor, mas falando de lentidão, curiosidade, espanto, relações, perguntas, prazer, assombro e leitura:



Pedagogia da Lentidão

No último encontro das Conversas Pequenas de 2013/2014 falámos de livros para os dias compridos que se aproximam, aqueles que podem ser explorados um pouco de cada vez, ou cuja leitura se pode estender por vários dias, enfim, histórias tão boas que nos dão inúmeras ideias para as ampliarmos com os nossos alunos / com as nossas crianças.

 
 
Um dos livros que levei foi História de um caracol que descobriu a importância da lentidão, do chileno Luis Sepúlveda, com ilustrações de Paulo Galindro. E esse livro levou-me a falar da Pedagogia da Lentidão, conceito introduzido pelo pedagogo italiano Gianfranco Zavalloni e desenvolvido no seu livro La Pedagogia della lumaca: per una scuola lenta e non violenta, de 2008. Como a conversa suscitou grande interesse, aqui vai o meu contributo para aprofundar o tema.
 
via
 
Neste livro, Zavalloni parte da constatação de que a escola atual segue o ritmo da vida moderna - um tempo feito de velocidade, de pressa, de aceleração - e reconhece a necessidade didática de abrandar. Propõe, assim, um novo modelo pedagógico a que metaforicamente deu o nome de "pedagogia do caracol". Segundo Zavalloni, é necessário perder tempo, para ganhar tempo. Para fazer de cada instante algo precioso para o aluno. Levando-o a:
 
escutar
dialogar
brincar
caminhar
observar
experimentar
esperar
crescer
 
Insiste na importância e nos benefícios da prática da caligrafia, com estilográfica, relativamente à motricidade fina, à retenção de informação e à criação de novas ideias. ( A este propósito, há três dias, o New York Times publicou um artigo interessantíssimo e muito bem fundamentado sobre este assunto). Em tempo de e-mails e sms, Zavalloni propõe a escrita de cartas e postais, como verdadeiras mensagens artísticas. Demonstra ainda que as fotocópias para pintar e as fichas são a morte da expressão artística. Relata igualmente a importância do trabalho criativo manual.
Afirma que andar a pé é a única maneira de conhecer a fundo o espaço onde nos inserimos e que fazê-lo em grupo permite viver emoções, notar pormenores que nunca veríamos ao passar, velozes, de carro, sentir os cheiros e experimentar sensações que criam laços. Diz que uma excecional escola de poesia é deitar-se na relva e observar as nuvens, imaginando formas e movimentos. Mas também é muito bom olhar lá fora, pela janela.
Interroga-se sobre porque dizemos "mau tempo". Não será uma questão de nos vestirmos bem para recebermos as nuvens cinzentas? Não serão a chuva e a neve abundantes bênçãos do céu?
Defende que cada escola possa ter uma horta, por mais pequenina que seja. De origem camponesa, este pedagogo que desapareceu cedo demais (faleceu em Agosto de 2012) conhecia o tempo ditado pela natureza, pelo ciclo das 4 estações, pelas sementeiras e colheitas. "Na época do tempo sem espera" é essencial compreender o valor das pausas fecundas.
 

Mais do que um modelo pedagógico, as suas são sugestões didáticas de desaceleração, assentes em escolhas simples, mas corajosas, que implicam simplificar, refletir, estabelecer prioridades e envolver as famílias através de pactos educativos. Já sei, estão a pensar nos programas para cumprir. Pois bem, quem me conhece, sabe que é isto que eu digo todos os dias. Talvez se eu citar Gianfranco Zavalloni vos soe melhor:
 
"Podemos mudar a escola sem necessidade de um ministro que nos venha com indicações ou imposições."

Acreditava que a mudança na escola pode acontecer todos os dias nas salas de aulas, graças aos bons professores, os que são conscientes, corajosos e esperançosos.

terça-feira, 27 de maio de 2014

A Poesia do Mar

O Google dedica hoje a sua página ao 107º aniversário de Rachel Louise Carson, biológa marinha, ecologista e escritora norte-americana.


Desconheço quem seja e sigo o link na wikipedia. Descubro outros e um em particular prende a minha atenção, pois tem muito a ver com um livro que reli ontem e de que falarei daqui a pouco.

Em 1951, Rachel Carson publica The Sea Around Us. O livro vence o National Book Award no ano seguinte e permanece na lista dos best-sellers do New York Times durante 86 semanas! Porém, o que me fascina é a abordagem da autora. Possuidora de uma enorme competência científica sobre o tema e narradora exímia, faz neste livro uma verdadeira biografia do mar, começando pelas suas origens, depois penetrando gradualmente de forma cada vez mais profunda abaixo da superfície, imergindo o leitor na própria essência do tema, embalado pela sua prosa.
As palavras de Rachel Carson justificam a sua escolha:
"os ventos, o mar, e as marés, são o que são. Se há maravilha e beleza e majestosidade neles, a ciência descobrirá essas qualidades. Se lá não estiverem, a ciência não as pode criar. Se há poesia no meu livro acerca do mar, não é porque eu a coloquei lá deliberadamente, mas porque ninguém poderia escrever fielmente sobre o mar e deixar de lado a poesia" (minha tradução)                                                                                                   
Muito mais do que um livro de divulgação científica, este é um verdadeiro hino aos mistérios e à poesia do mar. Conhecedora da tradição literária que imortaliza o mar, Rachel Carson cita o Livro de Job, Homero, Shelley, Milton, Darwin, Melville, Conrad, Eliot.
  
 Não pode citar Hemingway, pois é nesse mesmo ano em Cuba que ele escreve The Old Man and the Sea, que será publicado em 1952.


Reli ontem a edição dos Livros do Brasil, de 1956. A tradução é de Jorge de Sena, com ilustrações de Bernardino Marques. Um livro velhinho, manchado pelo tempo e pelas muitas mãos que antes de mim o acariciaram, que trouxe na semana passada da Biblioteca de Beja. Santiago, o velho pescador, continua a maravilhar-me. Tudo nele espelha a pureza do seu olhar e o respeito profundo que tem pelo mar e por todos os seres que o habitam. E apesar de todas as dificuldades, das dores e do cansaço, é sempre ao mar que ele quer regressar. É como um poema de amor ao mar, este livro. Como diz Jorge de Sena, no prefácio:
"(...) um breviário nobilíssimo da dignidade humana, escrito com a mais requintada das artes. Poucas vezes, no nosso tempo, terá sido concebida e realizada uma obra tão pura, em que a natureza e a humanidade sejam, frente a frente, tão verdade."

Estas leituras levam-me ao magnífico livro-álbum Un Hombre de Mar, de Rodolfo Castro, com ilustrações de Manuel Monroy, publicado em 2004 pelo Fondo de Cultura Económica, col. Especiales A la orilla del Viento.


 Onde o homem e o mar são um só, nem bom, nem mau, inesperado. Começa assim:
"Liborio tiene agua de mar en las venas.
Agua de los siete mares legendários.
Com pececitos y todo, com profundidades,
naufragios, mareas y oleajes."

Termino com um livro que fechou as Conversas Pequenas do mês de Maio sobre os livros pop-up.
Chama-se Oceano e os seus autores são Anouck Boisrobert e Louis Rigaud, de quem a Bruaá já publicou Popville e Na Floresta da Preguiça. Vejam que maravilha:


quinta-feira, 8 de maio de 2014

Caminhos de Leitura

Há já vários anos que vou aos Encontros de Literatura Infantil e Juvenil organizados pela Biblioteca Municipal de Pombal. Gosto da simpatia com que nos recebem, do cuidado e do amor com que embelezam a Biblioteca para acolher as centenas de pessoas que rumam até lá e, sobretudo, da atenção e da sabedoria com que todos os anos elaboram um programa sempre diferente e surpreendente. Este ano também assim é. Estou quase a caminho!




quarta-feira, 23 de abril de 2014

Dia Mundial do Livro 2014

Haverá melhor maneira de festejar este dia do que a conversar à roda dos livros?

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Dia Internacional do Livro Infantil

O Dia Internacional do Livro Infantil festeja-se a 2 de Abril, pois nessa data, em 1805, nasceu o escritor dinamarquês Hans Christian Andersen.


As personagens dos seus contos povoam o imaginário de crianças e adultos de todo o mundo: princesas genuínas, rainhas e imperadores, soldadinhos de chumbo, rouxinóis, uma pequena sereia, o patinho feio. Porém, a imagem que delas faz cada um de nós é com certeza muito influenciada pela versão a que tivémos acesso. E aí a Disney reina...
Talvez muitos de nós nunca tenham lido os contos originais, isto é, a sua tradução a partir do textos escritos por Hans C. Andersen. Para quem é mediador de leitura, o conhecimento do original é imprescindível. Deixo-vos duas sugestões:

Hans C. Andersen, Contos de Fadas, D. Quixote, 2003



A.A.V.V., Ervilhas para Verdadeiras Princesas, Edições Eterogémeas, 2005

terça-feira, 1 de abril de 2014

Conversas Pequenas

Conversas Pequenas foi o nome escolhido para a Comunidade de Leitores de Literatura Infantil que dinamizo e que começou no ano passado, em Santiago do Cacém, mas que se prepara para ser itinerante já no próximo ano letivo.

                 il. Polly Dunbar

Em Abril, o encontro terá lugar precisamente no Dia Internacional do Livro Infantil, amanhã. Creio que não há maneira melhor de festejar este dia do que a partilhar livros, leituras e estratégias de mediação leitora! Pelo menos para mim, cada encontro tem significado sempre um aumento exponencial da minha capacidade de ler e levar a ler.
Amanhã levarei algumas surpresas, de modo a agradecer ao grupo de cerca de 14 pessoas que me acompanha nesta aventura no Jardim-de-Infância e Sala de Estudo "O Sabichão", que aderiu com entusiasmo ao projeto e que, mensalmente, disponibiliza o espaço para a sua realização.

 
Como habitualmente, a IBBY deixa a sua mensagem anual.
 
 
 
Desta vez, uma carta às crianças de todo o mundo, pela escritora irlandesa Siobhán Parkinson, da qual destaco a parte final, pois resume a essência de uma Comunidade de Leitores:
 
"Cada leitor de uma história tem alguma coisa em comum com os outros leitores da mesma história. Separadamente, mas também em conjunto, eles recriam a história do escritor com a sua própria imaginação: um ato ao mesmo tempo privado e público, individual e coletivo, íntimo e internacional. Isto deve ser o aquilo que o ser humano faz melhor.
 
Continua a ler! "
(tradução de Maria Carlos Loureiro)

 

segunda-feira, 31 de março de 2014

Teatro do Mar | âmbulo

Esta sexta-feira, dia 28 de Março, ainda a celebrar o Dia Mundial do Teatro, assisti a uma peça magnífica inspirada no livro Emigrantes (The Arrival), de Shaun Tan.



 
 
 
 
 
"ÂMBULO (aquele que se move) desconstrói o conceito de narrativa. Emocional e sem recurso à palavra, de carácter poético e contemporâneo, neste espetáculo, cruzam-se as linguagens do teatro físico e visual com a dança, as formas animadas, o vídeo e a música original. (...)
 
Em ÂMBULO, tal como na obra de Shaun Tan, as palavras são substituídas por imagens que nos lembram velhas ilustrações ou fotografias em sépia, que falam por si mesmas, assentes numa história simples e num fenómeno cada vez mais comum como é o caso da emigração. A encenação reflete a estética de uma novela gráfica, desenhada na dimensão da luta, do sofrimento e da esperança daqueles que são obrigados a partir em busca de uma vida melhor." (do folheto divulgativo)
 




A linguagem do teatro ao seu mais alto nível. Capaz de encantar audiências em todos os cantos do mundo. Tal como o livro de Shaun Tan.
A maior parte das pessoas que enchiam o auditório da ESPAM, em Vila Nova de Santo André, não conhecia o livro. Apercebi-me disso nas conversas antes e após o espetáculo. Mas quem o conhecia não se sentiu defraudado. Muito pelo contrário. Sentia-se o profundo respeito pela obra na qual a peça fora inspirada e jamais a tentativa de a emular. Os mais pequenos detalhes demonstravam a capacidade criativa e a grande qualidade da encenação de Julieta Aurora Santos. Excelentes as interpretações de Luís João Mosteias, Sérgio Vieira, Sandra Santos e Fábio Rocha de Carvalho.

Senti-me tão grata por aqui no litoral alentejano me ser dada a oportunidade de assistir a este ÂMBULO perfeito! Agradeço ao Teatro do Mar, mas, sobretudo, agradeço ao Mário Primo, fundador da Associação AJAGATO, diretor da Mostra Internacional de Teatro de Santo André e que, para contrariar a crise, apostou agora num Plano de Acolhimento de Espetáculos, trazendo todos os meses uma peça diferente a este palco!

quarta-feira, 26 de março de 2014

Catarina Sobral vence Prémio Internacional de Ilustração

Catarina Sobral ganhou hoje a 5ª edição do Prémio Internacional de Ilustração Bologna Children's Book Fair - Fundación SM!

 
 
No site da Feira é possível ler a motivação do júri (minha tradução):
 
"O júri (...) composto por Sophie van der Linden, da França, Roger Mello, do Brasil, e Pablo Nuñez, de Espanha, reunido na Feira de Bolonha no dia 24 de Março de 2014 reconhece:
 
- a grande maturidade e a forte identidade pessoal da obra vencedora;
- a síntese gráfica da composição;
- a capacidade de transmitir sensações íntimas e profundas utilizando linhas puras e cores primárias;
- a eficácia narrativa polvilhada de sentido de humor;
- as referências à tradição gráfica dos anos 50 interpretada de forma contemporânea;
- a bem conseguida composição da imagem baseada em figuras geométricas essenciais.
 
O júri decidiu, portanto, atribuir, por unanimidade o 5º Prémio Internacional de Ilustração Bologna Children's Book Fair - Fundación SM à ilustradora portuguesa Catarina Sobral."
 
 
 
 
Muitos parabéns à Catarina Sobral, pelo seu enorme talento, e à sua editora, a Orfeu Negro.



terça-feira, 25 de março de 2014

BARBRO LINDGREN ALMA 2014

 É Barbro Lindgren, autora sueca, a premiada com o Astrid Lindgren Memorial Award de 2014.

 
 

Embora faça para o ano 50 anos de carreira literária, a obra da autora não se encontra publicada em Portugal. Desconheço-a quase completamente. Apenas folheei uma vez, numa das lindíssimas e bem recheadas - de livros e de leitores - bibliotecas de Estocolmo, um livro infantil de Barbro Lindgren, Mamma och den wilda bebin (The Wild Baby é a tradução inglesa), ilustrado por Eva Eriksson:
 
 
Na sua motivação para a atribuição do prémio, o júri refere o caráter pioneiro da sua escrita, defendendo que a autora reinventou não só o picture book para os mais pequenos, mas também a história absurda em prosa, o poema existencial para crianças, e a ficção realista para jovens adultos.
 
Ao saber que tinha ganho este prémio, Barbro Lindgren disse estar muito feliz, pois tudo havia começado com uma carta da própria Astrid Lindgren, em que esta lhe explicava como escrever uma boa história. "Segui os seus conselhos e essa carta foi a minha universidade".
 
Astrid Lingren trabalhou numa casa editora durante quase 25 anos e recebeu inúmeros manuscritos de aspirantes escritores para a infância e juventude. Nesta carta , datada de 20 de Dezembro de 1964, em que responde ao envio da primeira tentativa de publicação da agora laureada ALMA,  Astrid Lindgren escreve (minha tradução):
 
"(...) a autora sabe tanto sobre crianças. Mas não sabe tanto sobre como construir e manter o interesse num manuscrito. O mesmo problema tem sido a causa do falhanço de muitos outros manuscritos - o autor indulgentemente supera as dificuldades saltando de um episódio para outro sem retirar o melhor de cada um deles. Muitos fazem isso, pois é uma maneira fácil de escrever livros.
Mas no seu caso, sente-se que, se se esforçasse um pouco, poderia voltar a pegar no livro e entregar algo com muito interesse. Como é que isto se faz, sim, gostaria, acredite, de saber explicar o que quero dizer! Só lhe posso dar algumas diretrizes. Antes de mais, menos episódios e menos personagens que nem se conseguem saborear. Cada capítulo deve ser uma espécie de conto com um núcleo sólido. Faça de conta que lhe deram um exercício de escrita: escrever de forma completa e detalhada como Mats uma vez fugiu para casa da avó. (...) Faça de conta que a sua tarefa é escrever sobre isso - e apenas sobre isso - continuando até sentir que a tensão se acumula de forma perfeita e a agarra até ao final."
 
Um excelente conselho para quem quer ser escritor, não acham?

segunda-feira, 24 de março de 2014

O Centro do Mundo do Livro Infantil

Todos os anos, por esta altura, Bolonha é o centro do mundo, no que ao Livro Infantil diz respeito. É na Fiera del Libro per Ragazzi di Bologna que se juntam profissionais (editores, escritores, ilustradores, tradutores, agentes literários, distribuidores, livreiros, bibliotecários, docentes, etc) dos 5 continentes para traçarem o destino da editoria infantil dos próximos tempos.


País convidado da edição de 2012, Portugal levou a Itália a exposição de ilustração Como as Cerejas, que neste momento pode ser visitada no Centro Cultural de Belém, com oficinas de ilustração orientadas por Danuta Wojchiechowska.

 
Este ano a Feira faz 50 anos e o nosso país estará representado pela DGLAB, que no seu espaço dará destaque à vencedora do último Prémio Nacional de Ilustração, Ana Biscaia, com A cadeira que queria ser sofá, e a uma mostra de livros recentemente editados em Portugal.  Presentes estarão ainda a equipa Planeta Tangerina, bem como as editoras Pato Lógico e Orfeu Mini.

O Brasil será o convidado de honra deste ano.



Um dos elementos mais importantes desta Feira é a Exposição de Ilustração, verdadeira montra de prestígio mundial. Este ano, dos 3190 participantes, foram selecionados 75 artistas. Apenas uma é portuguesa: Catarina Sobral, com as ilustrações de O Meu Avô, editado pela Orfeu Mini.

 
 
Este ano, pela primeira vez, foi também pensado um espaço, o pavilhão 33, com uma programação especialmente concebida para as escolas e famílias.
 
Amanhã, às 11:50 portuguesas, será anunciado online o vencedor do Astrid Lindgren Memorial Award, de que já falei no ano passado. Este ano os candidatos portugueses são António Mota e Planeta Tangerina. A contagem decrescente já começou e o anúncio poderá ser acompanhado através deste link e também na Feira Internacional do Livro Infantil de Bolonha, como já é tradição.