É Barbro Lindgren, autora sueca, a premiada com o Astrid Lindgren Memorial Award de 2014.
Embora faça para o ano 50 anos de carreira literária, a obra da autora não se encontra publicada em Portugal. Desconheço-a quase completamente. Apenas folheei uma vez, numa das lindíssimas e bem recheadas - de livros e de leitores - bibliotecas de Estocolmo, um livro infantil de Barbro Lindgren, Mamma och den wilda bebin (The Wild Baby é a tradução inglesa), ilustrado por Eva Eriksson:
Na sua motivação para a atribuição do prémio, o júri refere o caráter pioneiro da sua escrita, defendendo que a autora reinventou não só o picture book para os mais pequenos, mas também a história absurda em prosa, o poema existencial para crianças, e a ficção realista para jovens adultos.
Ao saber que tinha ganho este prémio, Barbro Lindgren disse estar muito feliz, pois tudo havia começado com uma carta da própria Astrid Lindgren, em que esta lhe explicava como escrever uma boa história. "Segui os seus conselhos e essa carta foi a minha universidade".
Astrid Lingren trabalhou numa casa editora durante quase 25 anos e recebeu inúmeros manuscritos de aspirantes escritores para a infância e juventude. Nesta carta , datada de 20 de Dezembro de 1964, em que responde ao envio da primeira tentativa de publicação da agora laureada ALMA, Astrid Lindgren escreve (minha tradução):
"(...) a autora sabe tanto sobre crianças. Mas não sabe tanto sobre como construir e manter o interesse num manuscrito. O mesmo problema tem sido a causa do falhanço de muitos outros manuscritos - o autor indulgentemente supera as dificuldades saltando de um episódio para outro sem retirar o melhor de cada um deles. Muitos fazem isso, pois é uma maneira fácil de escrever livros.
Mas no seu caso, sente-se que, se se esforçasse um pouco, poderia voltar a pegar no livro e entregar algo com muito interesse. Como é que isto se faz, sim, gostaria, acredite, de saber explicar o que quero dizer! Só lhe posso dar algumas diretrizes. Antes de mais, menos episódios e menos personagens que nem se conseguem saborear. Cada capítulo deve ser uma espécie de conto com um núcleo sólido. Faça de conta que lhe deram um exercício de escrita: escrever de forma completa e detalhada como Mats uma vez fugiu para casa da avó. (...) Faça de conta que a sua tarefa é escrever sobre isso - e apenas sobre isso - continuando até sentir que a tensão se acumula de forma perfeita e a agarra até ao final."
Um excelente conselho para quem quer ser escritor, não acham?
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