Quando eu era criança, as férias grandes eram um tempo mágico e gigante.
O dia começava com um pequeno-almoço demorado, que incluía a fruta que eu ia apanhar ao damasqueiro que ficava mesmo em frente à porta de casa ou à figueira um pouco mais afastada, perto do tanque. Até à hora do almoço havia tempo para passear pela ribeira, com os pés descalços, por entre as pedras e a pouca água que ainda teimava em correr. Esperávamos, em religioso silêncio, que as rãs recomeçassem a coaxar para descobrirmos os seus esconderijos e podermos vê-las, cada qual diferente, nos seus lindos verdes.
À tarde, o calor impedia-nos de brincar lá fora. Era a hora da sesta, sinónimo, para mim e para a minha irmã, de horas a ler no silêncio da casa adormecida. Quantos livros requisitávamos uma vez por semana na biblioteca da vila. Vinham connosco para casa em felizes sacos pesados. Depois do lanche havia as corridas de bicicleta, os mergulhos no tanque, as brincadeiras no sótão e a visita à figueira centenária que era casa, cavalo e baloiço.
Nas noites mais quentes, o meu pai trazia uma manta grande, as almofadas, e deitávamo-nos lá fora, de barriga para o ar, a conversar e a ver as estrelas, à espera que a casa arrefecesse. Era tão bom estarmos, assim, juntos. Como se aquele tempo não tivesse fim.
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